quarta-feira, 20 de julho de 2011

Enigma

Brincando com o luar,
esses teus caracóis loiros,
que escondem mil mistérios
impossíveis de decifrar.

Esse teu perfume,
esse teu olhar,
ignorante de sentido,
sábio de amar.

É um enigma tua vontade,
é uma advinha tua saudade.
É um querer, não querer,
de eterna ingenuidade.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Coração de Pedra

Como gostava eu de não sentir,
de não ver a noite se aproximar,
apagando todas as estrelas,
arrefecendo friamente o Sol.

Como queria eu ver o mar,
olhar o céu e fitar o sol,
em vez de chorar a noite,
entender a areia e sorrir para a lua.

Como desejava ter um coração de pedra,
que não cedesse,
que não rasgasse,
que se não perdesse vagueando sozinho, na solidão.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Oh Despair, a sonnet for despair

The Chains, the loathing chains,
the relentless gag they grip,
not a word of love, joy or hope it lets slip.
Despair, despair is all that remains...

Not the dove nor the tree,
not the gull nor the sea.
Solely impassive silence,
despair and death are free.

Oh despair, oh despair, leave me be.
I dream no more,
hope is lost to me.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Essência da Alma

Que fazes tu, sentada nessa pedra,
fitando esse jardim?
Que fazes tu, bela e triste, sorrindo lágrimas,
regando os alecrins?

Porque choras?
Porque não levantas tua leve face,
porque não contemplas as estrelas
e deixas que a tristeza cesse?

Nem a brisa primaveril te faz sentir,
nem à paisagem enamorada o teu rosto consente um sorrir,
nem o Sol dourado te permite ver,
nem a ti tu te deixas conhecer…

Quem és tu que não corres com o rio
mas pretendes chegar ao mar?
Quem és tu, que fitas o céu
mas só o chão consegues notar?
Quem és tu? Que corres, que gritas, que tentas,
sem nunca nada alcançar…

Quem és tu? Quem és?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Disforme

A pétala da flor,
que se abate perante o mundo,
perante a dor.

A dor do vento que arrasta,
a dor de ser ninguém no mundo de ninguém,
a dor de ser apenas outro alguém.
A dor da posteridade,
a dor da informe inconformidade,
a dor da infeliz incredulidade,
a dor da sórdida realidade.

A árvore que é arrancada,
pela tempestade furiosa.
Tudo quer, praga rogada.
Nada tem, praga forçada.
Cede por fim, praga realizada.

A montanha que se ergue mais alta que as nuvens,
destruída pela vontade alheia, continua, das aragens.
Que farás tu, que és mais altas que todos?
Que farás quando o tempo vier e com ele a aragem,
e se seguir outro tempo e outra aragem(?)
pois nem as montanhas são eternas...
Que farás quando tu caíres, como têm que cair todas as coisas?
Que farás montanha solitária, que farás?

Dar-me-hás tua força, dar-ma-hás?
Dá-ma, pois em mim não está o aprumo da árvore,
a graciosidade da pétala ou a majestade da montanha.
Dá ma porque quero ser alguém,
dá ma porque não quero ser ninguém!
Dá ma porque quero ser mais que eu!
Dá ma porque quero que me deixem ser eu!